Giro do Vale

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quinta-feira, 12 de junho de 2025

Morre a atriz Marília Pêra, aos 72 anos, no Rio de Janeiro

Foto: Divulgação

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Uma das grandes damas do teatro e da televisão do Brasil, Marília Pêra morreu neste sábado, aos 72 anos, no Rio de Janeiro, informou a Globonews. Em seus últimos meses de vida, a atriz lutou contra um câncer no pulmão.

No último mês agosto, ela foi a grande homenageada do Festival de Cinema de Gramado, onde recebeu o prestigiado Troféu Oscarito.

– Que alegria! – afirmou na ocasião, eufórica ao perceber que seus três filhos, Nina Morena, Ricardo e Esperança, viajaram em segredo do Rio de Janeiro até a serra gaúcha para homenageá-la.

Marília Pêra morreu trabalhando. No ar com a quarta temporada da série de TV Pé na Cova, da Globo, ela planejava para 2016 o lançamento de um disco com canções românticas. E de um musical a partir dessas canções.

Foi por meio de um enigmático post de Falabella, seu colega em Pé na Cova, que a notícia de sua doença se espalhou. “Não desista de nós! Por favor!”, ele escreveu, na rede social Instagram. Em 2015, a atriz também havia sido homenageada pela escola de samba Mocidade Alegre, no Carnaval de São Paulo. Ela passou o ano em tratamento médico, segundo informações dos familiares, combatendo um desgaste nos ossos do quadril – chegou a ficar afastada das gravações de Pé na Cova por conta do tratamento.

Filha, neta e sobrinha de atores, Marília Soares Pêra costumava contar que pisou em um palco pela primeira vez quando tinha 19 dias de vida – estava no colo da atriz de uma montagem teatral, colega de elenco de sua mãe, Dinorah Marzullo (seu pai era o ator Manoel Pêra). Aos quatro anos, em 1948, já trabalhava em uma montagem de Medeia, de Eurípedes.

Natural do bairro carioca de Rio Comprido, a atriz conviveu desde cedo com os bastidores da Atlântida, a histórica produtora de comédias localizada no Rio. Antes dos 20 anos já havia atuado com Bibi Ferreira (na montagem de Minha Querida Lady, de 1962) e interpretado Carmen Miranda (na biografia de Lamartine Babo O Teu Cabelo Não Nega, de 1963), papel que repetiria algumas vezes em sua carreira. Nessa mesma época participava de um programa semanal de balé na TV Tupi – onde seus pais costumavam trabalhar.

Casou-se aos 16 anos, em 1959, com o ator Paulo Graça Mello – que a motivaria a mudar o nome para Marília Pêra da Graça Mello. O casamento durou pouco: a atriz já estava separada quando, em 1965, integrou o elenco que inauguraria a TV Globo, protagonizando as novelas Rosinha do Sobrado e Padre Tião, ambas de Moisés Weltman. Nos primórdios da emissora ainda atuou em A Moreninha, adaptação do romance de Joaquim Manuel de Macedo escrita por seu ex-sogro, Graça Mello, que era diretor da emissora.

– Esse comecinho da Globo era muito divertido, porque tudo era muito experimental. Como ninguém sabia nada, o brinquedo era muito novo para todo mundo, havia muita criatividade – ela relebrou, em entrevista ao site Memória Globo.

No teatro sua carreira ganhou fôlego no fim da década de 1960, quando esteve, entre outras, em Se Correr o Bicho Pega, de Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, A Ópera dos Três Vinténs, de Bertold Brecht e Kurt Weill, A Megera Domada, de William Shakespeare, O Barbeiro de Sevilha, de Beaumarchais, e Roda Viva, de Chico Buarque. A volta à Globo se deu em 1971, a convite de Daniel Filho, para contracenar com Francisco Cuoco em O Cafona – quando interpretou Shirley Sexy, personagem que lhe deu grande popularidade. Um pouquinho antes, em 1968, ela fizera Beto Rockfeller, na TV Tupi, novela que é considerada um marco da teledramaturgia brasileira.

A dama do teatro e da TV emendaria dezenas de produções nas décadas seguintes, interpretando da taxista Noeli, da novela Bandeira 2 (1971), de Dias Gomes, à interesseira Milu, de Cobras & Lagartos (2006), de João Emanuel Carneiro. No cinema Marília Pêra estreou em 1968, pelas mãos do diretor Eduardo Coutinho, que a escalou para fazer O Homem que Roubou o Mundo. Com o mesmo diretor, ela trabalharia em Jogo de Cena (2007), documentário premiado e aclamado pela crítica.

– Com Coutinho, aprendi como é tênue a linha entre o que você é e o que você finge ser – ela comentou em Gramado 2015 (no festival serrano, venceu dois Kikitos de melhor atriz, em 1983, por Bar Esperança, e em 1987, por Anjos da Noite).

Marília viveria com o cineasta Hector Babendo seu momento de maior projeção internacional. Em 1981, imortalizou a personagem da prostituta Sueli em Pixote, a Lei do Mais Fraco, desempenho que chamaria a atenção de produtores internacionais e a levaria a Nova York, onde rodou Mixed Blood, filme de Paulo Morrissey lançado em 1984. Outros papéis de destaque no cinema foram em filmes de Cacá Diegues (Tieta do Agreste, de 1996, e Dias Melhores Virão, de 1990), O Viajante (1999), de Paulo César Saraceni, e Amélia (2000), de Ana Carolina.

Além de Carmen Miranda, que reviveria em espetáculos como A Pequena Notável (1966), dirigido por Ary Fontoura, e A Tribute to Carmen Miranda (1975), por Nelson Motta, também interpretou mulheres célebres como a cantora Dalva de Oliveira (no musical A Estrela Dalva, de 1987), a diva Maria Callas (Master Class, de 1996), a estilista Coco Chanel (Mademoiselle Chanel, de 2004), e a ex-primeira dama do Brasil Sarah Kubitschek (na minissérie JK, de 2006). Mas foi a sofisticada Rafaela, personagem totalmente fictício que Cassiano Gabus Mendes escreveu para Marília na novela Brega & Chique (1987), aquele que a atriz mais gostou de fazer, conforme confessou ao site Memória Globo, mantido pela emissora.

Sobre os personagens que interpretou e o rumo que deu à carreira, ela declarou a ZH, pouco antes de subir a Serra para receber o Oscarito, em agosto passado:

– Não sou empreendedora, no sentido de articular minha carreira. Sempre quis fazer sucesso, claro. Mas, passada a agitação pós-Pixote, era preciso ir atrás para construir algo lá fora, e eu nunca levei isso ao pé da letra. Havia possibilidade de fazer teatro nos EUA. Mas é complicado, tem muita concorrência, e até hoje meu inglês não é fluente. Lembro de ter ficado com medo, inclusive. Então, não me arrependo. A gente faz escolhas, e eu fiz as minhas.

 

ZH

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