Vacinação preventiva reforça proteção aos felinos silvestres do Vale do Taquari
- porJuliano Beppler da Silva
- 9 de junho de 2025
- 1 semana

Veterinário Pedro Júnior e Maurício durante a ação de vacinação da animais domésticos. (Foto: Divulgação)
Um projeto nascido de um hobby se transformou em uma das iniciativas mais relevantes do Vale do Taquari no campo da conservação da fauna silvestre. No sábado, 7 de junho, mais uma etapa prática dessa missão foi concluída com a vacinação de 70 cães. A ação integra o projeto Felinos do Vale, idealizado por Mauricio Cesar dos Santos, 30 anos, que há cerca de três anos dedica-se ao monitoramento e à preservação de felinos silvestres em áreas dos municípios de Bom Retiro do Sul, Fazenda Vilanova, Teutônia, Estrela e Taquari.
A imunização dos cães é uma estratégia preventiva essencial. Vivendo próximos às áreas onde se encontram populações do Gato-maracajá (Leopardus wiedii) e do Gato-do-mato-pequeno (Leopardus guttulus), os cães domésticos podem ser transmissores de doenças letais para os felinos, como a cinomose e a parvovirose. “Nosso foco não é só proteger os felinos, mas promover uma convivência mais harmônica entre a fauna doméstica e a silvestre”, explica Mauricio. As vacinas são aplicadas com apoio do veterinário Pedro Mallmann Junior, e a campanha ocorre anualmente.
Além da vacinação, o projeto realiza um trabalho contínuo de monitoramento por meio de armadilhas fotográficas, acionadas por sensores de movimento e calor, que registram a presença dos animais de forma não invasiva. Com esses registros, é possível identificar, quantificar e estudar padrões de comportamento das espécies que vivem em meio a lavouras, áreas de pasto e fragmentos de mata nativa.

Gato-maracajá e um filhote (Foto: Divulgação)
O primeiro clique que mudou tudo
“Eu sempre dizia: ‘vim com um propósito, só não sei qual’. A resposta veio quando comprei uma armadilha fotográfica por brincadeira e captei o primeiro vídeo de um gato-do-mato. Foi ali que tudo mudou. Comecei a estudar, fiz cursos, conheci gente da área e percebi que aquilo me fazia bem”, relata Mauricio.
O projeto Felinos do Vale tem respaldo técnico e institucional. Mauricio é membro da Tiger Cats Conservation Initiative, uma rede de pesquisadores dedicada à conservação de pequenos felinos nas Américas. O grupo conta com apoio financeiro do Mohamed Bin Zayed Species Conservation Fund (MBZ), que tem possibilitado o desenvolvimento de ações práticas no campo.

Gato-do-mato-pequeno. (Foto: Divulgação)
Fragmentação e desafio invisível
O bioma onde vivem os felinos monitorados é fortemente fragmentado pela atividade agrícola e pecuária. Isso significa menos abrigo, maior exposição a ameaças humanas e maior contato com animais domésticos. “Existem poucos estudos sobre a vida desses felinos nesse tipo de ambiente. Estamos tentando preencher essa lacuna com ciência e ação direta”, explica o pesquisador.
Além do trabalho no Vale do Taquari, Mauricio participa de ações em outras regiões do estado. Ele auxilia no monitoramento de pumas (o conhecido leão-baio) na divisa com Santa Catarina, em Cambará do Sul, e integrou a equipe que fez história ao capturar e colocar um rádio-colar GPS no Gato-palheiro-pampeano — espécie considerada a mais ameaçada do mundo e que pode desaparecer em menos de 10 anos. Ele também esteve na redescoberta do Tamanduá-bandeira no RS, após mais de um século sem registros confirmados da espécie no estado.
Ciência e emoção de mãos dadas
“A cada imagem nova, me emociono. A cada animal identificado, entendo melhor o equilíbrio da natureza. Quero levar essa informação adiante, mostrar que é possível coexistir com a natureza e que o futuro desses bichos depende também das nossas atitudes cotidianas”, destaca Mauricio.
O que começou como uma curiosidade virou vocação. Hoje, as armadilhas fotográficas de Mauricio não registram só felinos — mas também a urgência da conservação em tempos de avanço humano sobre a biodiversidade. Felinos do Vale é mais que um projeto científico: é uma ponte entre o mato e o humano, entre o saber e o sentir.
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Comentários
Rosane
9 junho, 2025Muito emocionante!
Tadeu de Oliveira
9 junho, 2025O Mauricio so esqueceu de dizer que essa ação no Vale do Taquari foi feita simultaneamente com vários outros projetos ao longo das Américas, o que torna esse feito deles ainda mais relevante para conservação dessas espécies na escala continental!